“Taxa das blusinhas” criada por Lula derrubou receita dos Correios em R$ 1 bilhão neste ano de 2024
Estatal enfrenta prejuízo recorde, crise financeira e busca soluções emergenciais
A "taxa das blusinhas", como ficou popularmente conhecida a tributação de 20% sobre compras internacionais de até US$ 50, gerou um impacto devastador na receita dos Correios em 2024.
Segundo um documento interno da estatal, a medida contribuiu diretamente para uma perda de R$ 1 bilhão no ano, agravando ainda mais a situação financeira da empresa, que já enfrenta uma crise histórica.
O relatório, divulgado nesta terça-feira (3) pelo Poder360, revela que os Correios registraram um prejuízo acumulado de R$ 1,81 bilhão entre janeiro e agosto de 2024, com projeções de fechar o ano com um saldo em caixa 83% menor do que o reportado no início do ano.
Crise em números: a erosão das finanças dos Correios
Com um teto de gastos estipulado em R$ 21,9 bilhões para 2024, a estatal precisou tomar medidas de contenção para evitar o que chamou de "insolvência". A situação foi agravada por uma série de fatores, entre eles:
- Taxação de compras internacionais: Apelidada de "taxa das blusinhas", gerou um impacto negativo de R$ 1 bilhão na receita de 2024.
- Queda nas remessas internacionais: Uma regulação implementada no segundo semestre de 2023 reduziu a receita em R$ 500 milhões, com efeitos ainda sentidos em 2024.
- Defasagem tarifária: Com um reajuste acumulado defasado em 74,12% ao longo da última década, os Correios deixaram de arrecadar cerca de R$ 2,5 bilhões apenas em 2024.
- Migração digital: O volume de correspondências físicas caiu drasticamente, reduzindo a participação do segmento na receita total de 54% para 21%.
- Custo da universalização: O serviço universal, que inclui a entrega a locais remotos, custa R$ 5,5 bilhões ao ano, gerando um déficit residual de R$ 3,7 bilhões mesmo com a imunidade tributária.
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Cenário herdado e busca por soluções
Em nota, a empresa atribuiu parte dos problemas ao que classificou como "sucateamento" e "herança de quase R$ 1 bilhão em prejuízos deixados pelo governo anterior".
Entre 2019 e 2021, os investimentos anuais na estatal foram limitados a R$ 345 milhões, um valor considerado insuficiente para sustentar as operações e modernizar a infraestrutura.
Nos anos seguintes, entre 2022 e 2024, os Correios retomaram os aportes financeiros, elevando a média anual para R$ 750 milhões.
Contudo, os esforços não foram suficientes para reverter a queda na receita, que foi rebaixada de R$ 22,7 bilhões para R$ 20,1 bilhões no último ano.
A estatal também precisou ajustar suas despesas, reduzindo a projeção de gastos de R$ 22,5 bilhões para R$ 21,9 bilhões, uma economia de R$ 600 milhões em relação a 2023.
Polêmica tributária: como a taxa foi implementada
A "taxa das blusinhas" entrou em vigor oficialmente em agosto de 2024, mas sua cobrança começou em julho, nas plataformas AliExpress e Shopee. A antecipação foi necessária devido ao prazo para emissão da Declaração de Importação de Remessas (DIR), que estabeleceu a data de 1º de agosto como marco inicial.
A medida foi aprovada como um "jabuti" — um item estranho ao projeto original — dentro do pacote Mover, iniciativa voltada a incentivar veículos menos poluentes. A taxação, inicialmente retirada, voltou ao texto após acordo político no Congresso, envolvendo o presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL).
Futuro incerto e desafios à frente
A crise vivida pelos Correios expõe os desafios de manter uma empresa estatal sustentável em um cenário de profundas transformações econômicas e tecnológicas.
A dependência de receitas tradicionais, como o envio de cartas, contrasta com a rápida ascensão do comércio digital, que agora enfrenta barreiras fiscais.
Diante da insatisfação popular e da pressão do mercado, a estatal precisará não apenas revisar sua estrutura de custos, mas também encontrar novas fontes de receita para assegurar sua viabilidade.
Resta saber se as medidas emergenciais serão suficientes para evitar o colapso financeiro anunciado.
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